sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Como as greves nos afetam no século 21 - No passado o poder de mobilização e os efeitos eram maiores

Neste momento os sindicatos dos Bancários e dos Correios estão engajados numa guerra de números com os empresários, sendo que os primeiros querem mostrar para a opinião pública um enorme grau de adesão à greve, enquanto os empresários se mostram pouco afetados. Esse jogo de números e de informações é velho e não produz nada de positivo ou efetivamente relevante. O que importa, para a sociedade, são os efeitos das greves, e, claro, seus méritos e suas demandas.

Em primeiro lugar, se essas duas greves estivessem ocorrendo em 1980, seria o caos para o consumidor e para as empresas. Ir ao banco todos os dias em tempos de elevada inflação e baixa inserção tecnológica era essencial para os negócios. Sem agências abertas e a atenção de seus funcionários, faltaria dinheiro vivo nos caixas, os pagamentos não seriam executados e ainda por cima os empresários e empregados não conseguiriam aplicar seus recursos no famoso over night. No caso dos Correios, não havia outras grandes opções para envio de correspondências e pequenas encomendas, ou seja, sem internet, sem e-mail, sem motoboys e sem UPS por aqui, tínhamos que recorrer à Empresa Brasileira de Correios.
Assim como o mundo, o Brasil mudou muito. Em parte essas mudanças são provenientes de pura evolução tecnológica. Mas, em grande medida também foram produzidas pela inserção do País no mercado global e pela abertura de mercados. Se, de um lado os trabalhadores têm como vantagens dessas mudanças a liberdade de expressão e a certeza de que não serão espancados por forças policiais nas manifestações, por outro lado as empresas e consumidores não ficam mais reféns de uma ou outra categoria. Um mundo plural é, em síntese, um mundo melhor. Temos mais opções para todos os gostos e soluções distintas para problemas conhecidos.

Essas greves, independentemente de seu mérito, vão afetar a população e as empresas apenas se forem extensas. Claro, algumas pessoas e empresas vão precisar efetivamente de algo que será totalmente prejudicado pelos movimentos, mas no curto prazo isso é marginal. Alertamos para os casos mais óbvios:
1.         Pagamentos de faturas e dívidas com data de vencimento próxima e que os boletos não chegaram aos destinos. Para esse problema é necessária à comunicação com os credores e emitentes ou a emissão de segunda-via pela internet (quase sempre possível).

2.         Saques de grandes quantidades de dinheiro para operações da empresa (pagamento de empregados, fornecedores etc).
3.         Levantamento de financiamentos e outras operações com gerentes

4.         Envio e recebimento de mercadorias ou documentação (em parte podem ser usados outros courriers)
Essas são as atividades, em particular, mais comuns que podem ser afetadas pelo desenrolar dessas greves, e que devem ser motivo de preocupação para consumidores e empresários.

Assessoria Técnica

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Os preços do petróleo em 2011: Primavera Árabe seguida de crise das dívidas europeias

O primeiro petroleiro da Líbia, carregado com 381.000 barris de petróleo, a deixar o porto em meses partiu com destino à Itália do porto oriental de Marsa el Hariga em 25 de setembro, disse o chefe da autoridade portuária da Líbia à Reuters na terça-feira. O país, que já foi o terceiro maior produtor de petróleo da África, exportou apenas outros dois cargueiros de petróleo desde que a rebelião começou contra o ex-líder Muamar Kadafi em fevereiro, que só foi derrubado no mês passado. As previsões de que Kadafi, assim como os outros ditadores da região, não iriam resistir por muito tempo, estão se confirmando, pouco antes ou pouco depois do que se esperava.
A produção da Líbia antes da guerra estava em torno de 1,6 milhão de barris por dia de petróleo. Após o pior momento da revolução, dentre o que se convencionou chamar de primavera árabe, a produção de petróleo Líbia deve alcançar os 500.000 barris diários no início de outubro, ajudando a melhorar as receitas extremamente necessárias para alavancar a economia depois de sete meses de guerra.  Segundo autoridades os cargueiros e postos petroleiros da Líbia, estão operacionais com poucos danos à sua infraestrutura relatados, o que deve aliviar rapidamente as tensões sobre as contas correntes do país do norte da África.
O preço do barril de Petróleo Brent que saltou de uma média próxima de US$ 100 para algo ao redor de US$ 125 começaram a cair, mas muito mais em função do aperto da crise na Europa e da consequente valorização do dólar. Hoje os preços se situam ao redor de US$ 110. Muito provavelmente os preços vão cair um pouco mais, principalmente pela junção do enfraquecimento do ritmo da economia global (com momentos de melhora e piora no caminho) com a reabertura dos portos de uma das grandes nações exportadoras do produto.

No mundo globalizado, que convoca rebeliões, revoluções e protestos via internet, Facebook e Twitter, usar apenas os métodos antigos para prever o preço do petróleo não passa de uma grande e inocente besteira. É verdade que as Leis da Economia de Oferta e Demanda ainda valem na determinação do famoso equilíbrio de mercado, mas o detalhe – e o diabo mora nos detalhes – é que o comportamento da oferta e da demanda estão hoje atrelados a muitas mais variáveis do que no passado.
Uma mercadoria, commodity, por exemplo, pode ter demanda de mercados onde ela nunca será utilizada, provavelmente nem vista. Com os mercados futuros, que nunca viu um boi, nunca chegou perto de uma saca de trigo e nunca sentiu o cheiro de petróleo, pode ser determinante na formação dos preços destes ativos. Do outro lado, uma rebelião, greve ou mesmo revolução, convocada pelo Twitter, tem o poder de alterar significativamente a produção, oferta e distribuição de ativos importantes, como foi o caso do petróleo.  A sensibilidade humana nos negócios e os modelos matemáticos têm que ficar muito mais sofisticados para interpretar tamanha vastidão de informações. Na prática, muitas vezes achamos que as chances de acertar analisando o fato, em alguns casos, são quase as mesmas do que perguntar a um leigo vagando pela rua e aceitar sua opinião. Ou seja, usemos as informações com qualidade e parcimônia, dando preferência à simplicidade. Vamos fugir, quando possível, de assuntos e investimentos que não compreendemos.

Assessoria Técnica

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Investir em São Paulo

O Brasil tem se mostrado um ótimo lugar para se investir. O País atrai capitais financeiros e de investimento direto do mundo todo. Dentre os mercados potenciais, o Estado de São Paulo ainda oferece as melhores condições, seja no potencial de seu mercado para quem quer se valer do mercado interno, seja na presença da infraestrutura (que em média é superior à brasileira) e também na disponibilidade de fatores de produção qualificados (mão de obra, acesso às matérias primas e tecnologia).

São Paulo detém o primeiro, segundo e terceiro mercados consumidores do País: Estado, região metropolitana e interior. A capital, isoladamente, é também um dos mercados mais fortes do País, à frente da maioria dos Estados, muito próximo do Rio de Janeiro. Tanta força precisa de alguém que coordene e direcione investimentos. Precisa de alguém que possa fazer a melhor gestão para aqueles que querem investir no Estado. Para essa função o governo disponibiliza uma vasta quantidade de informações e até mesmo uma assessoria, por meio de sua agência de desenvolvimento. O site www.investe.sp.gov.br é um belo começo para quem quer aproveitar, cometendo o menor número de erros possível, o nosso mercado e o potencial para ter aqui uma plataforma de produção global.
No site o potencial investidor pode identificar os melhores setores para se investir, as vantagens, os benefícios fiscais eventuais. Pode ter acesso a informações sobre a infraestrutura disponíveis nas diversas regiões do Estado, conhecer melhor os potencialidades e as vantagens comparativas de cada região (produção de álcool em Ribeirão Preto, força agropecuária no norte do Estado, celeiro tecnológico na região de Campinas e do Vale do Paraíba, cluster automobilístico no ABC, o maior porto do hemisfério em Santos, futuras refinarias no litoral norte, e assim por diante).

A FecomercioSP acredita que não basta haver potencial, o investidor tem que ser orientado, seja ele grande ou pequeno. Tem de haver a facilitação para que se empreenda no Estado, e o bom uso das redes já constituídas (rede de educação, de informações, centros logísticos disponíveis, net works de negócios, etc.) tem que ser máximo. O que a FecomercioSP espera é que os investidores em nosso Estado tenham o máximo de sucesso possível, pois esse é o melhor cartão de visitas que uma economia pode ter: o sucesso e o reinvestimento de quem aqui se instalou.
Assessoria Técnica

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Poderia ter sido pior

A semana passada começou exatamente como antecipávamos: sob o terror do aprofundamento da crise europeia. Para completar, a percepção repentina de que novamente as autoridades da economia estão tratando o momento de forma muito atrapalhada também não ajudou nada. Para resumir a atuação do governo, agiu onde não devia, falou o que não podia, comunicou-se muito mal com o mercado financeiro. Deixou de agir como e quando devia, fez marola demais, e sucumbiu a pressões que não poderiam ter prevalecido. Mas no final da semana parece que as coisas foram sendo ajustadas e na sexta-feira a sensação média dos mercados era de que a coisa poderia ter sido ainda pior.

Nessa semana o Ibovespa caiu forte (7%) ao mesmo tempo em que o dólar subiu mais de 6%. Na realidade o dólar chegou a atingir na quinta-feira de manhã R$ 1,96, mas foi cedendo e no final da semana terminou em R$ 1,84. No ano, a moeda americana subiu 11%, um resultado quase surpreendente para uma moeda que vinha perdendo valor constantemente. Vale lembrar que o dólar subiu frente a outras moedas como Euro e Iene, mas em relação ao real essa valorização foi mais forte, o que quer dizer que nossa moeda caiu não só em relação à moeda americana, mas também frente às outras moedas importantes. De certa maneira isso resume a semana: com o aperto da crise na Europa (dívidas soberanas na berlinda) a opção tradicional é a corrida para títulos em moeda americana. Além disso, internamente o governo não foi bem e a percepção dos mercados foi de que em algum momento haveria o risco de que se perdesse o controle da inflação. O câmbio apenas refletiu esse sentimento. Claro, há especulação no meio dessa história, mas temos que lembrar que especuladores apenas agem quando são apoiados – ao menos em parte – por uma história que corrobore seus boatos.

No ano, o Ibovespa cai mais de 23%, e, conforme muitas vezes aqui comentado, não dá para ficar apostando na recuperação rápida do índice. Quando o Ibovespa atingiu o patamar de 48 mil pontos, realmente parecia que o grau de pessimismo não fazia sentido e era verdade que havia pechinchas nas bolsas. Por outro lado, isso não quer dizer que o indicador vai rapidamente voltar aos 70 mil pontos. Ao contrário, a tendência é de que o Ibovespa fique alternando semanas melhores com piores, mas que redunde na manutenção dos patamares atuais, pouco acima, pouco abaixo. O risco de haver uma mudança radical é pequeno, e dependeria de um default sem solução na Europa para definitivamente buscar um patamar bem mais baixo, (não apostamos nessa hipótese) ou de uma solução indolor para o enrosco europeu somada à reversão do quadro de crescimento americano – o que também é improvável. Ou seja, podemos esperar mais do mesmo por algum tempo, como temos alertado neste boletim desde o final do primeiro semestre, quando o viés de queda constante deixou de ser inequívoco.
Vamos esperar uma semana com surpresas, mas ao que tudo indica o governo deve começar a se desenrolar e usar uma política macro mais “livro texto” e menos pirotecnia. Provavelmente o que vai nos mover neste final de mês é a situação externa e não mais as “trapalhadas da equipe econômica”.


Assessoria Técnica

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

No meio da turbulência, dado do IBGE de emprego é alívio

Nos Estados Unidos o sistema financeiro está vinculado a Wall Street, ou seja, quando alguém quer se referir ao sistema financeiro fala de Wall Street. Para caracterizar o consumidor comum e o setor “real” da economia o termo usado é Main Street. Enquanto a crise não sai de Wall Street e chega à Main Street, o problema se restringe aos especialistas em economia, mas não sensibiliza muito os políticos. E isso é um problema, porque sabemos que há um delay, um intervalo, entre uma crise que se inicia no mercado financeiro e os seus efeitos sobre o consumidor e o empresário não vinculado ao sistema bancário e financeiro.
No Brasil os mercados andam bastante voláteis e nervosos, apesar de que não há ainda a materialização deste momento de crise mais agudo sob a forma de queda de renda, emprego e/ou consumo. O IBGE divulgou os dados de desemprego de agosto que revelam a menor taxa de desemprego da série histórica: 6%. Confira aqui.
Isso significa que, infelizmente, a classe política se sentirá menos pressionada a adotar as medidas necessárias para minimizar os efeitos futuros dessa corrida de ativos, muito ruim. Além da queda do desemprego, segundo os dados da pesquisa do IBGE, a renda média cresceu 3,2% em relação a agosto. O crescimento da massa real de salário entre agosto de 2010 e o mês passado foi de 5,7%. O conjunto desses dados mantém o crescimento do consumo e isola o mercado financeiro da rua comum na percepção da situação econômica. Até porque, o povo em geral não fica fazendo análise de equilíbrio dinâmico na macroeconomia comparada.

Seria muito bom que as autoridades econômicas agissem rapidamente no País para deter os efeitos dessa turbulência dos mercados financeiros sobre o cotidiano, que provavelmente serão grandes. Entre os efeitos mais prováveis estão: aumento de preços, mudança de planos de viagens no final de ano (principalmente para quem planejava ir ao exterior), perdas nas bolsas (para investidores, é claro), aumento dos juros futuros, restrição de crédito e, finalmente o País pode chegar a reduzir consumo e com isso afetar o emprego, que ia muito bem, até agora. Não era o momento do governo ficar mexendo em IPI, no IOF, aceitando pressões de lobbies isolados. Era o momento do governo mostrar a máxima austeridade e cautela. Ainda há tempo, mas uma reversão dessa situação vai exigir habilidade e, principalmente, humildade das autoridades econômicas, pois muitas coisas terão que ser desfeitas.
Assessoria Técnica

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Emoções à flor da pele

A quantidade de indicadores internacionais saindo junto ao sentimento interno crescente de desconfiança e ressentimento com as autoridades econômicas criam um ambiente explosivamente perigoso. O blog vem alertando para o fato de que a situação econômica não chega a ser catastrófica, mas requer cuidados especiais. Se houver desdém por parte das autoridades (aqui no Brasil ou nas grandes economias globais) o atual cenário modestamente ruim de crescimento global baixo (algo entre 3% e 3,5%) pode caminhar rapidamente para um cenário bem pior de recessão e risco sistêmico no setor financeiro. Exatamente por conta dos riscos envolvidos é que nossa aposta era e continua a ser a de que haverá uma orquestração para dirimir e mitigar os riscos mais proeminentes.

O Brasil não está blindado como pode parecer. Evidentemente nossa situação é mais confortável, com o sistema financeiro sólido e hígido, as contas públicas em ordem (principalmente em comparação ao resto do mundo) boas reservas cambiais e com o setor real da economia ainda trabalhando quase a pleno emprego. Todavia, confiança demais pode ser um mau conselheiro, e é exatamente isso que preocupa os analistas da Fecomercio no momento. O Brasil parece atravessar um momento de soberba da equipe econômica. Seria muito melhor, neste momento, que o País adotasse cautela e ortodoxia para enfrentar mares mais hostis e podermos comemorar no curto prazo que novamente ficamos quase alheios aos momentos de crise mais aguda.
Nesta semana, além de todo o problema da dívida européia, com o gatilho grego perigosamente armado, os dados de produção na China, Europa (inclusive Alemanha) estão indicando desaceleração mais profunda do que se previa. Ao mesmo tempo as autoridades econômicas brasileiras estão brincando com fogo, e abriram uma “Caixa de Pandora” que pode muito rapidamente deteriorar o cenário e as perspectivas, ora positivas, no Brasil. A mistura de ressentimento dos mercados financeiros e dos consumidores com relação às medidas adotadas nos últimos meses (e principalmente nas últimas semanas) com a desconfiança de que a equipe econômica é fraca para enfrentar uma nova crise vinda lá de fora é o pior dos mundos. Essa mistura de sentimentos está provocando um aumento significativo da percepção de risco, pressionando juros futuros, provocando uma aceleração da desvalorização cambial típica de momentos de quebra de confiança na moeda nacional e elevando a volatilidade dos mercados até o teto da casa.

Nada disso é bom, e para esse sentimento extrapolar o mercado financeiro e chegar às ruas, é questão de tempo, se nada for feito para provar que o desvio do rumo foi apenas temporário e que o governo reconsiderou suas ações. Vale ressaltar que o consumidor já começa a perceber que sua vida pode mudar, para pior, em breve. Provavelmente os próximos indicadores de confiança vão comprovar essa tese. A maior frustração, nesse momento, é a de ver o Brasil jogando fora, a passos largos, um momento de grande oportunidade para nos firmarmos como um dos pilares da economia global. Tudo isso por conta da má gestão que o governo tem feito de lobbies e das pressões, naturais e legítimas, mas que não deveriam pautar as políticas. O dia – e o resto da semana - promete ser muito agitado nos mercados financeiros, e a taxa de contágio para nós cresceu muito ultimamente.
Assessoria Técnica

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

FecomercioSP: Alta do dólar é oportunidade para o governo corrigir o equívoco do aumento de IPI para importados

O processo de desvalorização do real constatado ao longo do último mês e que já representa uma valorização do dólar na casa dos 20% abre uma ótima oportunidade para o governo federal corrigir o equívoco de elevar o IPI dos automóveis importados. A avaliação é da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). “Entendemos que o aumento do IPI foi uma decisão equivocada, estabelecida por improviso, comprometedora da competitividade do mercado e que certamente incorrerá em aumento de inflação, além de gerar riscos para a atração de novos investimentos produtivos no País e até mesmo de abertura de disputas no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC)”, afirma o diretor-executivo da FecomercioSP, Antonio Carlos Borges.

A FecomercioSP tem, entre seus valores, a defesa do livre mercado e direito à ampla concorrência, em condições equânimes de competição. Exatamente por isso, entende que a presença dos importados é um fator importante a ser considerado na preservação do controle inflacionário, bem como estabelece parâmetros significativos para pautar a competitividade da economia brasileira.
Embora reconheça que o mercado de câmbio esteja, neste momento, sem referência, as equipes técnicas da FecomercioSP acreditam que, pelo menos nos próximos meses, a cotação do real ante o dólar não se manterá nos mesmos patamares verificados anteriormente ao recente ciclo de valorização da moeda norte-americana. “Não temos condições, por enquanto, de afirmar se o dólar ficará em R$ 1,80 ou R$ 2,10, mas toda a movimentação do mercado, assim como a própria atuação do Banco Central (BC), nos dão indicativos muito claros de que não devemos aguardar por uma cotação na faixa de R$ 1,60, que vinha sendo registrada ao longo do ano”, observa Borges.

“Além disso, a Fecomercio SP se preocupa que o BC não esteja colocando em primeiro plano a manutenção da estabilidade, pois a desvalorização recente do Real terá efeitos inflacionários que exigirão medidas monetárias opostas às que estão sendo indicadas pelo BC”, acrescenta Borges.
A abrangência da crise de endividamento de países da União Europeia e a ainda imprevisível solução, assim como as estagnações econômicas de Estados Unidos e Japão e o papel a ser exercido pela China neste processo lançam incertezas sobre os rumos do câmbio. Entretanto, analisando as recentes ações deflagradas pelo Brasil, caso do início do processo de corte da Selic, intervenções do BC no mercado de câmbio, prevalecimento de posições de compra nos contratos futuros de câmbio e a expectativa de que no curto prazo as empresas transnacionais sediadas no País vão remeter lucros para suas matrizes estrangeiras são fortes indícios de que o dólar não deve voltar aos patamares registrados anteriormente.

A FecomercioSP alerta, portanto, que a revogação das medidas protecionistas anunciadas pelo governo pode ser um sinal importante para garantir a regularidade do abastecimento do mercado doméstico, manter o estímulo a novos investimentos, e uma componente relevante para a manutenção de preços, impactando positivamente no controle da inflação.

Voos domésticos e internacionais desaceleram

Os voos ainda estão cheios, e não começou a sobrar assento vago e barato para quem vai ao Rio, Nova York ou Paris. Mas a taxa de crescimento de passageiros, em voos nacionais e internacionais vem caindo rapidamente. Entre 2008 e 2010, a taxa de crescimento de passageiros voando no País foi superior a 10%, algo fabuloso, principalmente quando levamos em conta a fraca infraestrutura física e o pequeno ou quase inexistente investimento para suprir essa demanda. O quadro abaixo com números de agosto de 2011 ante agosto de 2010 é bastante esclarecedor.

Em agosto, os voos estritamente nacionais receberam 13% a mais de passageiros e os internacionais quase 6%. O acumulado do ano para as mesmas comparações atinge 20% e 16%, respectivamente. Ou seja, a percepção de desaceleração de emprego, renda, o incremento muito rápido nos últimos anos criando o fator estatístico base respondem por grande parte dessa redução do ritmo. Claro, a lotação e o esgotamento da capacidade também são fatores restritivos severos. Para se ter uma ideia, ao fechar 2011, o Brasil terá visto cerca de 100 milhões de passageiros transitando por seus terminais, um crescimento de 15% a 20% em relação a 2010. O número é grande, para nossos padrões. Mas, somente o aeroporto de Atlanta, na Geórgia (EUA) viu passarem em seus terminais 90 milhões de passageiros no ano passado. Se compararmos, vamos ver que o potencial desse mercado é muito maior, e sempre se justificariam investimentos, principalmente nos anos em que essa demanda estava crescendo mais aceleradamente ainda.
Em resumo, o volume da demanda por assentos em voos no Brasil, e, portanto, de infra-estrutura no solo, vem crescendo aceleradamente. Esse cenário deveria estar incentivando empresas a agredir mais esse setor, como seria de se esperar em uma economia totalmente de mercado. O fluxo de passageiros no Brasil ainda é muito pequeno perto do potencial, como se pode notar pela comparação com os Estados Unidos, por exemplo, e mesmo assim não damos conta do recado. Ou seja, nem mesmo com um potencial grande pela frente e uma taxa de crescimento presente relevante os investimentos são feitos. Isso explica porque o Brasil passou - e passa - por momentos de euforia de crescimento, seguidos rapidamente da ressaca expressa nos gargalos de infraestrutura e também sob a forma de inflação quando o mercado fica espremido entre a demanda crescente e a falta de capacidade de atendimento.

Não conseguimos atingir a idade adulta ainda, e as dores do crescimento nunca acabam. Uma pena porque é provável que essa falta de investimentos adequados e a crise mundial que se avizinha (senão crise, ao menos, uma redução do ritmo de crescimento) venham a reduzir o brilho que deveria estar emanando de um setor com o crescimento esplendoroso como o aeroviário nestes últimos anos.
Assessoria Técnica

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

FecomercioSP rejeita retorno da CPMF e cobra dos governos a administração eficiente dos recursos públicos para a saúde

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) é contrária à qualquer iniciativa de natureza governamental, independentemente da esfera administrativa, pela recriação de tributo supostamente voltado para o financiamento da saúde pública. A regulamentação da Emenda 29, que estabelece recursos públicos mínimos obrigatórios para a saúde, não pode ser aceita como fato motivador para a volta da antiga CPMF, um tributo rejeitado pela população. Este movimento pela expansão da carga tributária nacional deve ser motivo não apenas a se lamentar, mas de repúdio e mobilização da sociedade brasileira.

Ao contrário do que apregoam os ocupantes dos Executivos municipais, estaduais e federal, e até mesmo parlamentares, a estrutura de saúde pública do País não carece de novas fontes de financiamento, simplesmente pelo fato claro e objetivo de que a base arrecadatória já foi expandida nos últimos anos, resultado tanto do ciclo de crescimento econômico do País, bem como da ação mais eficiente – e por vezes excessiva – dos agentes responsáveis pelo regime arrecadatório.
A FecomercioSP lembra que, mesmo com o final da CPMF, em 2008, o Governo Federal, já contando com o ciclo virtuoso de crescimento, aumentou em mais de 12% os gastos públicos, grande parte em função da expansão de gastos com pessoal e despesas correntes, que se intensificaram assustadoramente nos anos seguintes. É importante enfatizar que, mesmo durante a crise financeira global de 2008/09, com efeitos avassaladores também sobre a atividade doméstica, a Receita Federal do Brasil continuou a registrar recordes de arrecadação.

Ao invés de aproveitar o momento positivo da economia e promover os ajustes orçamentários, natural exigência pelo fim da CPMF e uma grande oportunidade para promover avanços na competitividade nacional, a administração pública, sobretudo a federal, optou pela via do afrouxamento de gastos e, pior, sem preservação de foco. Se a saúde é uma prioridade – e, de fato, é –, o governo conta com situação absolutamente confortável para reorientar ao setor parte das receitas já incrementadas e, naturalmente, disponíveis. Já passou da hora, portanto, de ajustar-se a deficiente e patológica gestão da saúde, buscando ganhos de eficiência e foco no resultado.
O fim da CPMF representou uma vitória da sociedade contra um dos tributos mais injustos do País, tanto por sua regressividade, quanto pelo pesado ônus que impôs à sociedade, sem contar, claro, do próprio desvirtuamento de sua finalidade original, o que, por si só, já seria um argumento irrefutável a desqualificar esta nova tentativa.

"Resta Um"

Uma das formas de se antecipar o futuro é criar cenários e entender os efeitos de cada uma das possibilidades sobre a vida das pessoas. No caso da economia, esse exercício funciona muito bem. Escolhemos alguns cenários prováveis (mais ou menos prováveis, evidentemente) e identificamos se é possível que os agentes, principalmente os formuladores de política econômica, podem pender para um lado ou outro e direcionar as ações, de modo a que sobre apenas o cenário menos traumático ou mais benéfico. O exercício não é dos mais simples, mas é possível. Vale lembrar também que, eventualmente, quando os resultados são semelhantes, os agentes políticos tendem a escolher medidas que sejam politicamente mais viáveis e rentáveis a si mesmos, ainda que se chegue a uma opção B não tão boa quanto a A. Quando o resultado da opção B pode ser, no entanto, desastroso, aí os políticos tendem a entender que é melhor comprometer seu curto prazo ao invés do longo prazo do país.
Hoje podemos dizer que os grandes problemas da economia global se concentram no baixo crescimento americano e japonês (geração de empregos insuficiente) e, principalmente, o risco elevado de calote de dívidas europeias. O risco nipo-americano pode contagiar o mundo por meio da simples redução do ritmo de atividade econômica. É ruim, mas, ainda assim, digerível. O risco europeu é algo mais sério, pois um calote de uma ou algumas economias (dentre elas está a italiana que é bastante grande) poderia provocar um enorme colapso no sistema de crédito mundial, com aversão exagerada ao risco (crunch de crédito) e também efeitos devastadores sobre o euro e a unidade da União Europeia.

Nos Estados Unidos existe uma expressão que exemplifica muito bem o tipo de risco que a economia global corre com um eventual calote europeu: too big to fail (muito grande para quebrar/falhar). A economia europeia é muito grande e muito importante para o globo. Se quebrar, ou falhar, os efeitos do contágio poderão ser demasiadamente elevados e não devemos afastar a hipótese de uma recessão global de longo prazo caso isso ocorra. O sistema bancário entraria em xeque novamente, com riscos enormes de quebradeira, e pior, em geral, não teríamos condições de dizer quais bancos estariam sólidos ou não. Nesse ambiente a correria de consumidores e correntistas poderia ser devastadora.
Analisemos alguns cenários possíveis para os próximos dias para, depois, tentar antecipar o futuro:

1.         A Europa deixa a Grécia quebrar e depois o mundo inteiro, sob clima de pânico, resolve orquestrar uma ação de salvamento de outras economias como a Itália, Portugal, Espanha e Irlanda;
2.         A Grécia quebra e mesmo assim ninguém faz nada para resgatar as outras economias. O mundo mergulha numa crise bancária e de confiança, seguida por um período de recessão agudo e prolongado;
3.         A China entra sozinha no jogo e resgata as dívidas de curto prazo das economias mais endividadas da Europa, principalmente a italiana, o maior monstro do momento;
4.         Antes de haver um evento de default, ou da China fazer o papel de emprestador de última instância, os bancos centrais do Japão, Estados Unidos e Europa entram no jogo e orquestram um plano de saída para suas economias, reduzindo os impactos de uma futura crise, tornando um provável evento recessivo de longo prazo em apenas um período de redução do ritmo de crescimento.

Dentre essas hipóteses, a pior é deixar as economias europeias entrarem em colapso, uma após a outra (cenário 2). A segunda pior seria deixar a China voluntariamente resgatar a Europa (cenário 3), pois, posteriormente, o preço que a economia ocidental iria pagar por essa mudança do eixo de importância seria muito aguda. A melhor hipótese seria se antecipar à crise e orquestrar uma operação de resgate de proporções quase bíblicas (cenário 4) seguida da hipótese de se esperar a Grécia quebrar para depois resgatar orquestradamente a Europa e as grandes economias (cenário 1)
Para nós, as hipóteses 2 e 3 são muito improváveis, pois analistas, políticos e autoridades econômicas conhecem seus desfechos aqui destacados. A hipótese 4 é hoje a melhor e só não é disparada a mais provável porque internamente, em cada país, as pressões populares são antagônicas a esse tipo de resgate. Para os gregos, não parece justo passar por uma recessão para pagar as dívidas com “banqueiros inescrupulosos e gananciosos”. Para os alemães, não parece justo resgatar os gregos, italianos, portugueses e espanhóis de uma situação criada por sua irresponsabilidade e incompetência. Por isso mesmo, ironicamente, o primeiro ministro grego está mal avaliado por tentar implementar um plano de austeridade e a premiê alemã Angela Merkel perdeu as eleições locais em Berlim por aventar o resgate da Grécia. Talvez seja necessário deixar a Grécia quebrar para fazer com que políticos, organizações sociais e público em geral entendam que todos serão muito afetados se nada for feito, ainda que cada um ache muito o que terá que contribuir para isso. Se pudéssemos apostar, a hipótese 4 é a mais provável, seguida de perto da hipótese 1.  Como o jogo é de “Resta Um”, ficamos com a 4! Vamos esperar ao menos mais 2 semanas para uma definição, enquanto isso, o nome do jogo é volatilidade.

Observação: vale a pena, para que se entenda bem o início dessa crise e as eventuais implicações de quebradeiras generalizadas, assistir a um filme para a TV da HBO chamado “Grande Demais para Quebrar”. Clique aqui para ver a grade de programação para a semana.

Grande Demais para Quebrar

           Filme / Drama
           Nome Original:  Too Big To Fail
           Direção:  Curtis Hanson

           Elenco:  James Woods, Topher Grace, Paul Giamatti, Billy Crudup, Matthew Modine, Tony Shalhoub, Kathy Baker

           País:  EUA
           Ano: 2011

           Duração:  98 min
           Cor:  Colorido

           Som:  Stereo
           Classificação:  Programa permitido para menores acompanhados dos pais

Crônicas da crise financeira de 2008, centrada no secretário do Tesouro, Henry Paulson.

DATA

HORÁRIO CANAL
Os horários são fornecidos pelas emissoras e estão sujeitos a alterações.

21/09    14:30    HBO

HD
22/09    20:10    HBO

23/09    15:03    HBO
28/09    17:37    HBO

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Aumento nas vendas pela internet exige soluções para problemas de logística

O Brasil é o quinto país em número de usuários de internet, ficando atrás somente de China, Estados Unidos, Japão e Índia. Com o número de internautas e de compras na rede em ascensão, o país precisa encontrar soluções para reduzir os problemas relacionados à logística do setor.

Uma das maiores dificuldades está na dependência de outros setores para realizar a entrega, cumprindo os prazos prometidos aos clientes.
O presidente do Conselho de T.I e E-commerce da Fecomercio, Pedro Guasti, lembra que os problemas com infraestrutura como fluidez do tráfego em grandes cidades, falta de mão de obra especializada e eventuais greves, como a dos Correios, comprometem todo o processo.

“A complexidade para a entrega do produto, em boa parte dos casos, é grande. A loja recebe o pedido e dá início à análise da compra e de risco, depois vai para um centro de distribuição que, muitas vezes, é terceirizado”, aponta Guasti.



Além desse ponto, quando a situação já fugiu do controle da empresa vendedora, há também problemas com o atendimento ao cliente, que é a segunda maior queixa relacionada ao setor, segundo Guasti. Ele ressalta, no entanto, que o índice de satisfação das pessoas que compram pela internet é de 86%.
“A gente reconhece que esse índice ainda precisa melhorar, mas, se consideramos o número anual, cerca de 50 milhões de pedidos feitos pela internet, aqueles que estão satisfeitos são maioria”, lembra o presidente do Conselho de T.I. e E-commerce.

O assunto será discutido na próxima quinta-feira (22), com o objetivo de encontrar soluções para amenizar as perdas para empresas e consumidores. As inscrições estão abertas e podem ser feitas pelo site.

Mais notícias boas do que ruins na semana

Uma nova ordem mundial surge para tentar resgatar a Europa, ao mesmo tempo em que começam a surgir projetos para acelerar a retomada do crescimento americano. No âmbito dos emergentes (hoje os BRICs) o mercado está mais calmo, até porque não houve, até o momento, uma corrida contra os investimentos desses países e nem uma acentuada queda do preço de commodities, como alguns chegaram a prever. Esse cenário foi o suficiente para manter os mercados mais calmos, ainda que voláteis, do que nas semanas anteriores.

No Brasil, especificamente, o Ibovespa fechou em alta, com um bom volume negociado ao longo dos dias e acompanhou o mercado externo. O mercado cambial ainda está em ritmo de desvalorização. Em grande parte essa tem sido a reação básica que denota desconfiança dos agentes no controle inflacionário e, portanto, cambial. Talvez o câmbio seja a válvula de escape desse mercado, mas é importante lembrar que, a desvalorização continuada do real (após ter ficado muito valorizado) pode se mostrar um importante obstáculo para o Banco Central no combate à inflação.




Conforme se pode notar a bolsa teve um comportamento bastante comportado com evidente tendência de alta e menos turbulências do que nas semanas passadas. Por mais irônico que pareça, o acompanhamento da trajetória do câmbio é que voltou a ser relevante. A semana deve começar tranquila nas bolsas, na esteira do final da semana passada, mas a tendência para o câmbio é de desvalorização.
Para completar a semana, o governo atuou, certamente sob pressão do setor automobilístico, e levantou barreiras tributárias sobre a importação de automóveis. A medida tem claro foco sobre as importações de automóveis chineses e sul coreanos. Essa medida reedita os momentos menos brilhantes da equipe econômica, não se encaixando entre as boas notícias da semana. Sob a desculpa de proteger o emprego nacional o governo elevou em 30 pontos de percentagem o IPI de automóveis importados. Vale ressaltar que, no caso dos carros chineses e sul coreanos  (alvos principais das medidas) os modelos competem diretamente com modelos que as montadoras nacionais já importam do México e da Argentina (países que não serão afetados pelo aumento do IPI). Portanto, se a medida protege empregos, protege os gerados no México e na Argentina.

Certamente, no entanto, esse aumento do IPI vai encarecer carros importados e abrir espaço para que os nacionais também subam de preços. Não parece uma medida inteligente para quem quer combater a inflação. No mais, se o problema está no excesso de estoques nos pátios das empresas nacionais, o certo é provocar a queda de preços destes carros para estimular seu consumo e não a alta generalizada. No passado, o governo reduziu o IPI de forma segmentada e atingiu seu objetivo de manter o mercado funcionando. Não vale fazer o contrário e dizer que é para a mesma finalidade. É uma medida protecionista, e ponto.

Assessoria Técnica

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Operação orquestrada para salvar Europa

Muito provavelmente, haveria uma operação de resgate das economias mais “enroladas” da Europa. E essa operação está para acontecer. Os bancos centrais ao redor do mundo vão fazer de tudo para garantir a estabilidade dos preços, mas mais do que tudo, para dar solvência às economias mais atingidas pela crise das dívidas soberanas como Grécia, Espanha, Itália e Portugal. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, disse que a decisão de prover liquidez em dólar via operações de três meses é um sinal desse movimento. "Estamos todos muito "unidos num propósito", disse Trichet por meio do texto de um discurso a ser feito no Fórum Financeiro Eurofin. "A decisão global coordenada, que levamos ao público nesta tarde sobre operações em dólar para prover liquidez, é uma clara ilustração de nossa cooperação muito próxima em nível global". O presidente do BCE também disse que a implementação das regras bancárias de Basileia III é um importante desafio à frente e que os reguladores precisam estudar os riscos que as operações de alta frequência impõem à estabilidade do mercado.   

O blog vinha adiantando que a Europa teria que recorrer a alguma solução não trivial. O volume de dívida vencendo no curto prazo nos países mais endividados como Grécia, Espanha, Itália e Portugal é muito grande para que haja uma operação tradicional normal de resgate via um banco ou apenas por meio do FMI e cortes de gastos públicos. O risco de um desses países declarar moratória era grande e as chances disso gerar um contágio em todo continente maiores ainda. O evento default na Europa seria inédito no pós-guerra e os efeitos poderiam ser desastrosos. Em 2008, mais precisamente em setembro, o Federal Reserve preferiu deixar o Lehman Brothers quebrar. Talvez essa decisão aparentemente correta e austera do Fed tenha sido o gatilho da crise. Ela iria se instalar de qualquer forma nos países com problemas de sub-prime, mas talvez a magnitude fosse melhor se houvesse uma solução não tão ortodoxa. Não dá para saber de fato o que ocorreria, mas a princípio, deixar um país da zona do euro quebrar parece muita irresponsabilidade.

O dano já está feito, a falta de rigor na fiscalização e a vista grossa que o BCE fez quando os Tesouros Nacionais e Governos faziam farra e gastavam muito já ficou no passado. Não há como voltar no tempo e buscar a solução ideal, que era ter exigido austeridade e a manutenção dos padrões fiscais e comerciais exigidos aos membros da “Eurolândia”. Alemães e franceses deixaram outros povos menos austeros de economias menores correrem muito soltos. O estímulo para a infidelidade era grande, ou seja, para gregos, portugueses, espanhóis e mesmo italianos, lançarem mão de gastos enormes financiados com emissões de títulos lastreados em Euros. Principalmente sabedores, de que se algo desse errado e o endividamento ficasse insustentável, alguém teria que resgatá-los. Algo deu errado. O endividamento ficou insustentável. Alguém vai salvá-los.

Rescaldo: como ocorreram, e se houve alguma jogada esperta de alguém por trás (esse alguém podem ser os italianos mesmo) isso ninguém vai saber ao certo e não é relevante agora, mas deixar vazar para a mídia que a China estaria disposta a ajudar a Itália comprando partes importantes de seus títulos, foi fundamental para o desfecho que deveremos ver em breve. Só o fato de que se a Europa não se concatenasse com Estados Unidos, Suíça (fora do Euro) e Japão a China poderia se tornar a grande provedora de financiamento para o velho continente ainda soa assustador. Se alguém deixou essa mensagem vazar, a China caiu na armadilha e terminou por completar talvez involuntariamente um trabalho de gênios: o primeiro ministro chinês veio a público dizer que poderia ajudar a resgatar a Itália e outras economias européias, mas que isso teria um enorme custo. Para os chineses resgatarem títulos quase tóxicos, a Europa teria que reconhecer o Império do Meio como uma economia de mercado. Essa “ameaça” chinesa soou como uma chantagem para que as grandes economias globais se apressassem em bolar um plano de resgate. Pode ser que tudo isso não tenha sido orquestrado dessa forma, e que tenha havido uma enorme coincidência de informações em fusos horários tão distintos, mas quando a coincidência é grande, as pessoas desconfiam.

Para recordar: quantas vezes países da Europa alinhados com os Estados Unidos não usaram o “risco soviético” como forma de chantagem para obterem vantagens no passado não tão distante? A China é o novo bicho papão do mundo! 

Assessoria Técnica

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A maior tributação da história não reduz a dívida social do País

O contribuinte está fazendo sua parte. Tanto em termos absolutos quanto relativos, o País deve terminar 2011 com a maior arrecadação de tributos de nossa história. Hoje, nos aproximamos de uma carga tributária de quase 40% do PIB, ou seja, se bem versados, esse montante seria suficiente para distribuir renda e garantir uma rede de amparo social aos necessitados muito melhor do que a que existe hoje. O contribuinte está fazendo sua parte, pagando impostos mais do que nunca. Quem não está colaborando? O suspeito de sempre: o Governo.

Nenhuma economia do mundo com o PIB per capita do Brasil ou semelhante arca com encargos tributários dessa magnitude. Em média, as economias semelhantes à nossa em renda per capita, têm carga tributária que gira em torno de 20% a 25%, muito inferior àquela que nos atinge atualmente. O País é diferente nesse aspecto, e em grande medida é culpa do gigantismo do Estado que, ao longo dos últimos anos, passou a ocupar muito espaço, se servindo da sociedade, ao invés de ter como propósito o contrário. O Estado hoje arrecada para manter a máquina viva, ou seja, tem um fim em si mesmo que é se manter organicamente. E pior, o organismo continua a crescer.
O maior problema não é a arrecadação de quase 40% do PIB (que por si só já seria um grande problema) o pior está no uso desses recursos, que, como já escrito, servem para manter apenas o organismo vivo. Os gastos com o custeio da máquina são quase 100% do orçamento. Sobra muito pouco para os investimentos, cerca de 1% do PIB. Como dentro do custeio o gasto com pessoal (salários e benefícios) e com a previdência (aposentadorias e assistência) é o maior gasto, para manter os salários de médicos, policiais, juízes, professores, e outros funcionários, gastamos a maior parcela do orçamento que arrecadamos com grande esforço de empresas e consumidores.  Muito pouco é destinado efetivamente à melhoria da infraestrutura, ao aumento do número de leitos ou de vagas escolares. O Estado começa e termina em si, e não tem a função social que deveria. É um gigante faminto que deixa apenas migalhas para aqueles que o sustentam.

O Estado é ineficiente, não investe em infraestrutura, não educa, não dá saúde, mas cobra por tudo isso e mais um pouco. Por isso, a classe média se vê obrigada a gastar uma parcela muito grande de seu orçamento com a educação particular de seus filhos e outra com o seguro saúde. Quem tem um pouco mais de recursos, nos grandes centros,  também gasta com segurança pessoal, blindando carros e contratando serviços particulares de segurança. Não é à toa que esses setores experimentaram um espetacular crescimento de suas atividades nos últimos anos. Quanto mais o Estado se afasta da sua função primordial de dar Saúde, Educação, Segurança e Transporte, em condições adequadas e no volume necessário, mais o contribuinte terá que pagar duas ou três vezes por isso.

Assessoria Técnica

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Há um mundo bem melhor, mas é bem mais caro

A Europa cresce mais de 3% ao ano, finalizou seu processo de unificação monetária com relativo sucesso e o potencial futuro parece ilimitado. O Sudeste Asiático passou a ser uma das plataformas preferenciais de produção industrial, bem como de geração de tecnologia. Os mercados dos grandes países como Brasil, Rússia, Índia e China são responsáveis por 60% a 70% do crescimento mundial, com a inclusão de centenas de milhões de pessoas no mercado consumidor global. Nos Estados Unidos o desemprego é o menor em décadas e o consumo das famílias atinge quase US$ 10 trilhões por ano, um recorde que acaba por manter superaquecida a economia chinesa e de outros parceiros comerciais. O volume de crédito no mundo cresce aceleradamente, principalmente destinado à aquisição de imóveis e de bens duráveis. Há uma onda de crescimento, distribuição de renda e progresso sem precedentes no capitalismo pós-guerra. Esse cenário existiu mesmo, e não faz tanto tempo: perdurou de meados da década de 1990 até meados de 2000, algo entre 15 ou 20 anos.

Esse mundo descrito acima, é bem melhor do que aquele que estamos agora, sem dúvida, mas em parte se baseou na falsa premissa de que existe almoço de graça. Nem tudo foi fantasia, e é até possível que o capitalismo se modernize e evolua garantindo taxas de crescimento melhores no longo prazo, mas a exuberância do período entre 1995 e 2007 ou 2008 era de fato irracional, parafraseando o antigo presidente do FED, Alan Greenspan. Em grande medida a prosperidade de ontem foi baseada no suor de hoje. Em geral os economistas concebem que a poupança deve ser prévia ao investimento (isso de forma geral, mas nem todos economistas concordam). Se alguns estão consumindo acima de suas possibilidades é porque outros estão poupando. Em termos agregados eu tenho que formar a poupança para depois consumir mais, baseado em investimentos e seus retornos.
No mundo dos anos de forte crescimento, parece que em vários casos se consumiu antes de se poupar. Se não foi cobrado na entrada, certamente a comanda será cobrada na saída. Muito provavelmente, ao passarmos esse período de crescimento baixo e desemprego elevado no mundo, vamos perceber que na média o crescimento obedeceu aos padrões históricos do capitalismo, talvez com alguma elevação. Ou seja, ao invés de tomarmos como base o período de crise para avaliarmos o crescimento econômico ou o período de expansão acima da média, devemos tomar um período mais longo, que englobe mais anos, contendo expansão e crise, para avaliarmos em média os resultados. Ou seja, o mundo bem melhor que vimos há pouco, tem preço, e a fatura está sendo apresentada agora.

Muito provavelmente, após esse período de purgação, haverá uma retomada do crescimento, e, após a curva de aprendizagem desta crise, deverão ser criados e adotados mecanismos que minimizem o risco de novas rodadas de crises como as de 2007/2008 e a atual (que é rebote da de 2007). Mas não nos enganemos, os mercados vão descobrir  novas fórmulas mágicas de crescimento acelerado, que não serão contidas por esses mecanismos. O resto da história não precisamos nem contar.
Assessoria Técnica